Diligência do Congresso Nacional se reuniu nesta sexta-feira em Terra Indígena Arariboia no Maranhão onde debateram com moradores e lideranças locais sobre situação de conflito e os recentes assassinatos de índios na região.
Fazem parte da Integro a comitiva formada pela Senadora Eliziane e os deputados federais Bira do Pindaré, Joenia Wapichana, Nilto Tatto. Também participam organizações de defesa dos direitos humanos.
Celino e Wanderson Fernandes receberam tiros no rosto dentro de sua casa / CPT
Por Catarina Barbosa
Dois camponeses foram brutalmente assassinados em uma comunidade no Maranhão, no último domingo (5), dentro de casa, na frente da esposa, dos filhos e dos netos. O caso aconteceu na Comunidade do Cedro, no município de Arari, distante 170 quilômetros da capital São Luís. Celino Fernandes e Wanderson de Jesus Rodrigues Fernandes, pai e filho, foram mortos com tiros no rosto após terem a residência invadida por quatro pistoleiros.
Os homens teriam chegado à comunidade encapuzados, vestindo coletes da Polícia Civil e declarando estar cumprindo ordem de prisão. Celino e Wanderson eram lideranças da associação quilombola do Cedro. Segundo nota da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os trabalhadores haviam denunciado o conflito agrário entre a comunidade e grileiros, que cercam – inclusive com cercas elétricas – campos públicos da região para criação de búfalos.
Segundo a CPT, as famílias tiram seu sustento do local, situado nos chamados “campos naturais inundáveis da Baixada Maranhense”, por meio da pesca e da criação de animais. “[Tratam-se de] terras públicas de uso comum do povo, constitui em Área de Proteção Ambiental (APA) do Estado do Maranhão, por meio do Decreto nº 11.900 de 11 de junho de 1991”, explica um trecho da nota.
Ainda de acordo com a CPT, desde que começaram a se organizar para reivindicar o direito de acesso aos campos, a comunidade tem sido ameaçada e perseguida.
O assessor jurídico do movimento Fóruns e Redes, Iriomar Teixeira, que acompanha o caso, relata que há outros camponeses ameaçados de morte na região e que há mais ou menos dois anos as pessoas assassinadas haviam pedido proteção às autoridades.
“Na verdade, há mais ou menos dois anos que a comunidade luta pela retirada da cerca dos búfalos dos campos na baixada ocidental maranhense, principalmente, em Arari. A partir daí já começou a se dar várias ameaças, tanto de parte de grileiros, fazendeiros, latifundiários como o próprio sistema de criminalização feito pela polícia do Maranhão, e depois com denúncias feitas pelo Ministério Público. Inclusive, os dois camponeses que foram assassinados no último dia 5 haviam sido presos no início do ano por conta dessa luta”, afirma.
Celino, Wanderson e outros três trabalhadores, incluindo Adriana de Jesus Rodrigues Fernandes, filha de Celino, presidente da associação quilombola de Cedro, chegaram a ser detidos por 70 dias no início de 2019.
A CPT afirma que a prisão das lideranças corresponde a uma “política deliberada das autoridades de Arari de criminalizar as lideranças sociais, com representações criminais, inquéritos policiais, denúncias, decisões judiciais favoráveis ao latifúndio” e visa encorajar a ação dos pistoleiros como “forma de criar uma cortina de fumaça sobre o verdadeiro conflito: a luta pela terra”.
Em 2019, cerca de 30 pessoas foram assassinadas por conflitos relacionados ao campo, segundo a CPT.
“Conflito generalizado”
O Secretário de Direitos Humanos e participação popular do Maranhão, Chico Gonçalves, afirma que o governo está disposto a identificar os responsáveis pelo crime. “Estamos aguardando as investigações da Polícia Civil para poder tomar outras iniciativas em relação ao caso. Lá é uma área de conflito generalizado, que envolve questões de terra, questão de criações e ao mesmo tempo a polícia civil está fazendo a investigação do caso.”
Segundo ofício expedido no dia do crime pelo delegado de polícia responsável pelo caso, Alcides Martins Nunes Neto, no dia 21 de dezembro de 2019, Celino Fernandes e Wanderson Fernandes torturaram publicamente duas pessoas, uma delas menor de idade. O documento diz ainda que não há informação se esse fato possui, ou não, relação com o assassinato das vítimas.
Comissão do Congresso Nacional formada pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) e os deputados federais Joênia Wapichana (Rede-RR) e Nilton Tatto (PT-SP) estará na próxima sexta-feira (10), no Maranhão onde visitarão a área indígena Araribóia.
O objetivo será obter informações sobre os conflitos nas terras indígenas onde foi assassinado ano passado o Guardião Florestal, Paulino Guajajara. Após sua morte num curto espaço de tempo outros índios também foram assassinados no Estado por causa do recrudescimento dos conflitos em áreas indígenas.
A Comissão se reunirá no município de Amarante com familiares de Paulino Guajajara e lideranças indígenas da região. A mortes dos índios no Maranhão teve repercussão internacional. Paulino Guajajara foi brutalmente assassinado com um tiro no rosto na região de Bom Jesus das Selvas-MA, entre as aldeias Lagoa Comprida e Jenipapo.
A agenda terá ainda encontro e participação de representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA, Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Policia Federal e Funai.
O líder indígena Paulo Paulino Guajajara, assassinado no Maranhão (Sarah Shenker/Survival International/Reprodução)
O governador do Maranhão, Flávio Dino, anunciou através da sua conta no twitter que segunda-feira (4), editará um Decreto para ajudar na proteção de áreas indígenas no estado. A decisão se dá, segundo ele, em razão da dificuldade dos órgãos federais em enfrentar o problema.
“Diante da evidente dificuldade dos órgãos federais em proteger as terras indígenas, vamos tentar ajudar ainda mais os servidores federais e os índios guardiões da floresta, no limite da competência constitucional e legal do @GovernoMA. Amanhã editarei Decreto sobre o tema”, anunciou Flávio Dino.
A responsabilidade e competência para apurar e punir crimes ou resolver conflitos em áreas indígenas é do governo federal. Mas, o governo do Maranhão através das secretárias de (Segurança Pública/Direitos Humanos), está colaborando no esclarecimento do crime que teve como vitima o líder indígena Paulo Paulino Guajajara, do grupo Guardiões da Floresta, numa emboscada ocorrida na última sexxta-feira (1º), em Bom Jesus das Selvas.